Sabe aquela história de não correr
atrás das borboletas e cuidar do jardim pra que elas venham até você, pois bem,
precavida como sou sempre cuidei do meu jardim, mas quando aparecia de longe
uma borboleta cuidava de correr atrás também, vai que, né?
Não que eu não tenha um sex appeal, mas por incrível que pareça,
apesar de ótima conselheira, no quesito "conquista" costumo me
embananar por completo e a sensualidade vai pro espaço.
Toda essa coisa de jogar, de mistérios,
fingir que ta afim, de falar sobre assuntos diversos, dizer que gosta de filmes
que nunca viu, de bandas que nunca ouviu, inventar desculpas pra não sair, pra
não mandar mensagem, pra não ligar... Sei lá, é tudo muito impossível pra mim.
E as pessoas mentem ao dizer que gostam de sinceridade. A verdade assusta.
Incomoda. E eu costumo me entregar mesmo, mergulhar de cabeça... Ou vai
ou racha! Geralmente racha. Mas dessa vez, não é que sem querer querendo, foi.
Me apaixonar é algo normal pra mim,
quebrar a cara, então, normalíssimo. Desde que terminei um namoro longo e
um tanto quanto conturbado, tenho me aventurado por completo nesse lance do
amor. Ás vezes tento segurar a onda, mas não dá. Se eu fico afim, já era. Ligo,
mando mensagem, mando música, poesia, chamo pra sair, pra comer, pra ver filme,
pra dançar, pra viajar, pra casar e ter filhos em outro país. Aí vou
desanimando aos poucos, vou percebendo que não estamos falando a mesma língua,
ou vou sendo naturalmente ignorada, e aí deixo falar mais alto o amor próprio
que vive escondido em mim, e largo de mão.
Não entendo pessoas que se relacionam
por se relacionar. Que ficam pelo que veem a sua frente e não pelo que sentem.
Me chamam de louca por imaginar uma vida inteira ao lado de quem acabo de
conhecer, louca pra mim é quem se entrega pro presente, a la carpe diem,
qual é?? Planejar é preciso. E se é só o presente que te prende a alguém, pode
ter certeza que não passa de uma atração física, e numa boa, atração física a
gente pode deixar passar.
Difícil é deixar passar uma conexão
mental. Aquele cara que quando seu celular vibra você fica imaginando se foi
ele que respondeu sua mensagem. Espera ansiosamente por um convite e já aceita
de prontidão. Tudo lindo, conversas e mais conversas, ambiente propício, álcool
na cabeça. Climinha rolando. É, rolou. Muita coisa em comum, papo fluindo como
nunca. Bateu com seu planejamento. Férias em lugares paradisíacos, uma vida a
dois fantástica. Você lendo na varanda enquanto ele prepara o almoço. Um ótimo
relacionamento com a família, com certeza será um bom pai. Pronto, é ele.
Achou. Na mosca. Não é um Tom Cruise da vida, mas tem uma barbinha pra lá de
sensual...
É, mas como sempre faço algo errado.
Não sei em que medida, e nem sei se dessa vez a culpa foi mesmo minha, mas de
repente, outra na jogada. Assim de supapo, no susto. Quase te faz cair do
salto, principalmente você que não está muito acostumada a esse lance de ser
mulherzinha. Tudo bem que homem ta difícil no mercado, mas disputar por um? Ah,
francamente. Eu não me rebaixaria a tanto. Não me imagino criando uma cena de
ciúmes ou fazendo um escândalo em público. Não sou a mais discreta das
mulheres, mas me assusta a ideia de implorar pela atenção de alguém. E aí, só
me resta aceitar resignadamente, e como o papo nunca foi de paquera, torcer
para que a amizade se mantenha, se é que isso é possível.
Mas de repente, em meio a tanta gente
arrumada, mulheres com seus penteados e maquiagens... Em meio a todo aquele
teatro, imitando em alguns aspectos os antigos bailes nos palácios, você se
descobre minúscula, quase insignificante e acaba descontando no whisky,
companheiro de todas as mulheres... opa, acho que não, ein? Mas se mais
mulheres bebessem whisky menos pessoas receberiam mensagens, isso é fato. O
whisky te mantém um tanto quanto orgulhosa, até certo ponto. E age sobre uma
área do teu cérebro que tenta te impedir de vexames, diferentemente da vodka
que te faz logo cair no chão de pernas abertas pra quem quiser ver.
Eis que entre uma dose e outra surge um
cara. Não, ele não é o galã da festa, e também não tem a barbinha sensual. Ele
é só um cara, um cara normal. Você olha e pensa "deve estar bêbado e
vai dar em cima de mim". Mas depois se olha e pensa "ah,
não to em condições de exigir, né?". Iniciam uma conversa, uma boa
conversa de antigos conhecidos. Normal. De repente esse cara que até então era
só um cara vira O cara. Você cospe
nele tudo o que está pensando sobre aquela festa. Desabafa como se ele fosse um
amigo, fala do coração partido, chama pra dançar como se fosse conseguir
provocar ciúmes no babaca de barba acompanhado da barbie. Aquele olhar, o jeito
como ele fala com você. Em instantes, de minúscula você se sente uma gigante.
Se sente mais bonita do que todos os vestidos de rendas e paetês com o seu verdinho
básico. Se sente única, afinal, esse cara normal, esse cara legal, te acha
interessante. Ele se interessou por você. E não foi pelo seu decote ou pra se
aproveitar do excesso de álcool. Ele tem interesse em te ouvir falar. Mesmo que
seja pra falar de outro cara. Ele ta de boa, quer ficar ali, com você. E aí no
dia seguinte você descobre que se ele pudesse teria ficado mais tempo
ali.
No dia seguinte você ouve uma bela
explicação pela situação desconfortável que se criou com aquele outro cara do
começo, o que tinha tudo a ver comigo, o que seria meu futuro marido após uma
cerimonia a céu aberto no pôr-do-sol. Como uma boa brasileira, tenta não largar
o osso, não desistir. Quer continuar nessa disputa praticamente vencida. Acaba
indo pra um lugar que não queria, assistir a show de bandas que não suporta, em
meio a pessoas estranhas com uma probabilidade minima de encontrar alguém
legal. Vai lá pra agradar uma amiga que queria muito ir. Entre tantas pessoas
que estavam naquele show, sua amiga fica afim justo do amigo do cara. O cara ta
lá com a barbie, e de repente está você, a sua amiga, o paquera da sua amiga, o
cara que até antes de ontem seria seu futuro marido e a barbie que a partir de
agora é a futura namorada do cara. QUE SITUAÇÃO, ein?
Passou, acabou. E agora definitivamente
você não quer mais ficar com o cara, ou pelo menos você que acreditar que não
quer mais. E como não basta você se convencer disso, faz questão de deixar
claro pro cara que você não tem mais interesse nele, e claro que o cara, pra
entrar nesse joguinho patético da conquista, finge que acredita em você e finge
que também faz questão, apenas, da sua amizade.
Aí, graças a tecnologia o segundo cara
da jogada, o que te ouviu na festa, o que reparou em você, resolve puxar um
assunto e emendar com um convite pra sair. Bom, não era dele que você queria
receber um convite, mas mesmo sem ler seu manual, parece que mais uma vez, o
cara normal, acertou em cheio. Te chamou pra comer, te chamou pra comer peixe.
Sensacional. Eu vou, claro que vou. Assim me distraio um pouco, converso com
alguém que está de fato interessado em mim. Não vou ficar com ele, sei me
controlar. Vou deixar claro que não to afim, que não dá. Ops, não deu. Clima
propício, só vocês dois, cenário bucólico e romântico, cervejas no sangue e ele
consegue te dar bons motivos pra ficar com ele. Ele quer ficar com você. E você
sabe disso desde o momento que ele te olhou entrar no carro. Você não queria
tanto, mas acaba cedendo. Está triste, magoada, e ele ta ali, levantando teu
ego e te dizendo o quanto você é linda e interessante e inteligente e o quanto
ele te "considera".
Antigamente pra uma pessoa manter
contato com dois pretendentes ela teria, no mínimo, dores no pulso por escrever
tantas cartas. Hoje em dia é fácil manter dois, três, quatro, dez ao mesmo
tempo. Alimentando com frases feitas ou contando como foi o dia.
Eu particularmente detesto esse tipo de
coisa, isso não faz bem pro meu ego, e não faz eu me sentir uma pessoa super
desejada. Definitivamente não fico deixando coisas mal resolvidas, como já
disse, ou vai ou racha. Mas nenhum dos dois mora aqui, não iria arrancar pedaço
manter um contato inocente, iria?
Acontece que aos poucos o que antes era
super interessante e que vc não queria simplesmente abrir mão, passa a perder a
graça a cada haha desinteressado enviado.
E aquele lá, pelo qual você não dava nada se torna sua conversa preferida.
Entre um papo e outro surge um programa a dois, uma viagem que tem tudo pra ser
inesquecível. Pela primeira vez, em muitos anos, você não está perdida sem
saber o que fazer ou como agir. Com ele você não tem medo de jogar a real, não
tem medo de falar demais, de assustar. Você sabe que ele não vai fugir de você.
Vocês falam a mesma língua e ele curte planejar as coisas com você. Entre fotos
do dia a dia e declarações inocentes de saudades, você começa a acreditar em
anjos e se vê cantando pela casa, abestadinha "pra renovar meu ser,
faltava mesmo chegar você, assim sem avisar e acelerar um coração que já bate
pouco de tanto procurar por outro, anda cansado, mas quando você está do lado
fica louco de satisfação, solidão nunca mais"