quarta-feira, 16 de março de 2011

Lágrimas e chuva!

Eu gosto de chorar, eu sempre gostei de chorar, pra falar a verdade. Choro nem sempre é sinônimo de tristeza e sorriso, definitivamente, não é sinônimo de felicidade. A felicidade, pelo menos a minha, está em coisas tão pequenas, simples e imperceptíveis aos sentidos dos insensíveis que eu mesma nem sei se sou capaz de sorrir todas as vezes que me sinto realmente feliz, mas sei que sou capaz de chorar todas as vezes... que me sinto só! E sei que me sinto só sem necessariamente o estar, assim como sei que nem a melhor das companhias me impediria de chorar em um dia realmente triste.

Meu sorriso não passa de uma máscara, assim como essas usadas no carnaval, assim como é usado no carnaval. Ora, quem é que não sabe sorrir? Mas se quiser eu elenco várias pessoas incapazes de chorar, do contrário só ganhariam o Oscar os comediantes. Chorar sim é difícil, embora sofrer seja fácil. Chorar é o mesmo que se entregar ao sentimento, e para se entregar a felicidade não basta sorrir. Vejam bem, eu não quero retirar de ninguém os sorrisos ainda que falsos, aiinda que fantasiosos, ainda que mascarados. Todos querem estar com quem sorri, e são os sorridentes que ensejam nos outros histórias para contar, são os sorridentes também que viram motivo de inveja. Mas ninguém nunca parou pra pensar que talvez a grama do vizinho seja mais verde porque ele a rega todos os dias com lágrimas, enquanto você sorri em seu quintal. E se eu digo isso, é porque sorrio todos os dias no elevador enquanto me debruço sobre minhas plantinhas na varanda.

Não é questão de revolta sem causa, de reclamação sem motivo e muito menos se trata de um possível medo de sorrir. É simplesmente uma saudade de tudo que não viveu, uma vontade do que ainda tem por vir e uma necessidade do que já se perdeu. São cheiros, músicas, coisas, lugares. As lágrimas escorrem quase que sem querer, e isso é sentir e isso sim é viver. Tudo bem que como diz a melhor amiga, qualquer beliscão me põe aos prantos e qualquer depilação me faz quase desistir de ser mulher, mas até isso, até essa aparente fraqueza esconde algo de proporções imensuráveis. A questão vai além de simplesmente não querer pular no carnaval. Aqui, sentada, sem ninguém por perto ou ao lado, tenho respeitado o meu direito de solidão. Ali, pulando, no meio de toda aquela multidão, tenho disfarçada a minha doença, a minha exacerbada carência. Entre elogios, beijos e abraços eu só consigo perceber um enorme vazio, quase como se eu fosse insaciável e eu inclusive já ouvi isso algumas vezes.

Sim, eu quero experimentar todas as coisas, mas não pelo fato de ser incapaz de me satisfazer com algo e sim pelo fato de ser incapaz de me desfazer de algo, de me desfazer de alguém. Eu sei, é besteira falar hoje em dia que eu seria capaz de guardar em mim todos os momentos, mas eu seria, eu sou, eu guardo. E se você estiver lendo isso agora, não, eu não sou hipócrita. Embora eu me arrependa de muitas coisas eu te guardo em mim e são nessas horas que eu faço como todas as outras pessoas, são nessas horas que eu coloco as lembranças ruins sobre as boas para poder exercer um controle sobre os meus sentimentos. Eu não te apago de mim com borracha, eu rabisco e faço algo por cima disso. A minha memória não me permite te esquecer, então a única coisa que eu ainda posso fazer é usá-la contra você pra te odiar, pra lembrar não das vezes que brincamos de polly na escola e sim de quando você me trocou por novas amigas. Em 19 anos eu venho aprendendo a manipular a minha memória, tudo o que eu queria agora era estar fazendo trilha no seu carro amarelo com uma garrafa de vodka de frutas vermelhas, olhando pra lua e pensando ter encontrado algo pra chamar de amor eterno, já que todos tem que encontrar. Eu queria que junto com o tumor que os médicos arrancaram das suas costas, eles tivessem levado todas as coisas ruins que você fez comigo. E eu queria, no seu caso, conseguir te odiar pelo mal que me fez ao invés de te amar incondicionalmente pelo bem que nem é assim tão grande quanto nos meus cálculos. E se ela entendesse que apesar de tão diferentes somos tão iguais, talvez brigaríamos menos e sorriríamos mais. Eu só preciso parar com a minha mania de fazer tudo pelos outros achando que um dia vou ser reconhecida sem que seja preciso eu gritar. Eu queria que você sentisse a minha falta o tanto quanto eu sinto a sua e eu queria que você acreditasse em metade das coisas que você já me disse, biscoito. Eu entraria na sua toca quantas vezes fosse preciso, só pra um dia poder te chamar de leãozinho e admirar seus cabelos vermelhos. Eu escreveria novamente todas as cartas de amor, sem tirar uma palavra e sem corrigir os antigos erros de português, eu te chamaria de novo de melhor amigo, ainda que você ativasse o sleep. Eu só penso em uma pessoa quando ouço Oasis. Eu queria de volta o meu melhor amigo da quinta série ou o chatinho massagista do Mônaco. Eu queria o pluft fantasminha e todas as estátuas vivas.

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