terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Nostalgia.

Dor de cabeça brutal e tal, o frio intensifica todos os sentimentos relacionados a dor e/ou tristeza. No entanto foi uma decisao minha, fui eu quem decidiu trocar praias por bonecos de neve, cinemas por tardes inteiras estudando e, finais de semana agitados por viagens em "família". Afinal de contas eu sempre quis ser a diferente de todos, sempre quis estar em desacordo e sempre cansei de ter sempre a mesma coisa, fazer sempre a mesma coisa. Eu nao tenho nenhuma amiga de infância, nao guardei nenhum dos ursinhos que dormia comigo quando eu era menorzinha. Nao tenho a clássica foto com os colegas de turma, talvez por também nunca ter tido A turma, pois estava sempre mudando de colégio. Eu nunca tive o meu primeiro amor, entao como era modinha resolvi idealizar um pra mim, e fui tao fundo nessa idéia que mesmo querendo as pessoas nao conseguiam me provar o contrário. E hoje eu sei que além de nao ter sido o primeiro, definitivamente nunca foi o amor. Nunca gostei de ouvir a mesma música mil vezes, e também nunca fui fa de nenhuma banda, de nenhuma cantora em especial, de nenhum filme legal. Nunca quis ser o que já existia, eu buscava sempre idéias alternativas até elas virarem modinha e eu me cansar. Hoje, eu sinceramente nao sei o que há de mal em gostar de algo que todo mundo gosta, só demonstra que tenho bom gosto, nao? É talvez.
Aos 5 eu gostaria de já ser grande o suficiente pra jogar videogame com o Vander, pra ficar la embaixo até tarde e pra conseguir ficar acordada até acabar chiquititas. Morria de nojo de beijo na boca, no entanto tinha uns sete namorados na escola, as meninas eram frescas e nao gostavam de se sujar, entao eu tinha que ir pro meio da lama brincar de guerra como algum dos meus amiguinhos.
Aos 10 escrevia todos os dias no diário, queria ser grande o suficiente pra sair com a Olga, queria ser a mais bonita da turma (ilusao), achava o máximo dormir com as amiguinhas e passar a noite fazendo os testes de revista capricho, atrevida, todateen... que eu roubava da gaveta da irma. Acreditava profundamente que seria uma nadadora profissional, que iria pras olimpíadas e que seria famosa. Tinha amizades que pensava que levaria pra toda a vida, e adorava passear no shopping. Ás vezes me sentia mal por ainda achar que os meninos da nossa turma eram feios e fedidos, enquanto que todas as outras os achavam lindos e desejáveis. Assistia sitio do pica pau amarelo, e no meu aniversario de 11 anos me fantasiei de emília, embora fosse infantil demais pra uma "pré-adolescente".
Aos 12 sonhava com minha festa de 15, com a valsa e com o namorado lindo e loiro que eu teria. Sonhava com o primeiro beijo de amor, e acreditava profundamente que seria o melhor do mundo. Tinha coleçao de melissas e de barbies mas dizia pras minhas amigas que eu já nao brincava mais, que era só de enfeite, nao queria parecer infantil e tinha raiva da foto de emilia exposta no meu quarto. Na locadora procurava os filmes que tivessem censura 14 anos ou coisas do genero no entanto, sempre fugia da tal verdade ou consequência que todos brincavam na hora da saída, ou quando nao tinha como fugir dizia que tinha um namorado ou algo do gênero. É, nessa fase eu tinha namorados imaginários, amigos imaginários, e pessoas imaginárias ligavam constantemente pro meu "oi xuxa". Foi também por esses tempos que eu conheci pessoas que marcaram totalmente minha vida, conheci alguns que levo até hoje e outros que foram ficando pra trás. Descobri que só posso ser a princesa do meu pai, e que ao beijar principes eles se transformam em sapos.É, depois, de uma hora pra outra, descobri que nem do meu pai eu ainda seria a princesa, comecei a perceber o real sentido das coisas e quis bancar uma de revoltadinha com a vida. Troquei as melissas pelas havainas (quando ninguém fazia), as calcinhas por cuecas, os vestidinho por calças folgadas. Fui obrigada a sair da nataçao por causa do joelho, deixei de escrever no diário, deixei de sonhar com minha festa de 15 anos e agora tudo o que eu mais queria era que o tempo passasse logo. Tava insatisfeita com as mudanças do meu corpo e da minha vida, de um dia pro outro meu pai ja nao amarrava meu cadarço e ja nao me levava pra escola. De um dia pro outro sorrisos foram substituidos por lagrimas e de alguma maneira eu sentia culpa. Eu queria experimentar todas as coisas, queria vivenciar tudo de uma vez, eu queria crescer e saber qual era a sensaçao de ser livre de ser adulta. Eu já nao acreditava nos contos de fadas, nao acreditava no amor eterno e achava que todas as pessoas que se aproximassem iriam de alguma forma tirar algo de mim, iriam me trair de alguma maneira, entao fazia sempre com que ninguem chegasse muito perto, mostrava só os defeitos, tratava mal e era chata. Conheci alguém que trouxe paz, alegria, luz. Conheci alguém que nao só me amava do jeito que eu era como também tentava me imitar. (te amo amiga ). Aí meu pai me mandou pra Disney, sem sequer saber que o meu namoradinho tambem iria, e que eu só tinha 14 anos.Cometi os piores erros, fiz as maiores merdas, e tudo pra tentar de alguma maneira chamar atençao. Fui rata de praia, fui surfista, fui rockeirinha pra sair com o vander e patricinha pra sair com a Olga. Eu nao passava de uma menina mimada, querendo de volta o que teve antes, uma menina mal acostumada com tantas mudanças de uma vez só. Foi aí que reapareceu alguém pra eu cuidar, pra eu amar, pra eu dar atençao. Foi aí que a minha margarida desabrochou no meu jardim numa manha qualquer. Nova escola e mais algumas amiguinhas que pretendo levar comigo, descobri o patins, e descobri que de alguma forma eu encontrava prazer no meio de tantas quedas e cicatrizes. E na volta passava por aquela casinha branca de esquina que me traz tantas recordaçoes e tantas conversas jogadas ao vento. Continuei com a mania de afastar pessoas ao primeiro sinal de perigo. Agora já nao colecionava barbies ou melissas, e sim garotos. Sempre ia atras dos mais difíceis, dos mais complicados. Procurava os que me tratavam mal, os que diziam nao saber dançar ou os que me subestimavam ou os que era velhos demais pra mim. Era divertido. Natal e ano novo tensos demais, e foi quando tive amizades reforaçardas e descobri que só havia uma pessoa capaz de me acalmar completamente, de me fazer esquecer do mundo e entrar em um planeta de fugas, de motocas, de jaquetas de couro e de lugares inusitados. Mas, melhor deixar a vontade passar.Entao tudo virou rotina demais, tudo virou enjoativo demais. Já nao aguentava as mesmas pessoas, os mesmos lugares, os mesmo comentários, os mesmos gostos e cheiros. Arrumei minhas malas, e tudo seria perfeito caso a vontade tivesse passado, caso a recaída tivesse acabado e caso a paixaozinha de menininha nao tivesse se transformado em algo mais forte, em algo um tanto quanto diferente. Bastou um telefonema pra que eu ficasse completamente confusa e perdida.E com isso vieram novos amiguinhos, com isso veio um pretinho qualquer que me alegra só com um simples alô, com isso veio uma roquinrroul cheia de piercings e de fumaças que transformou o meu mundo, com isso surgiu uma nova rotina com a qual eu já estava destinada a aceitar. Mas, meu orgulho idiota nao me deixou desistir, nao me deixou ouvir as declaraçoes fofas e sinceras, nao me deixou entender que ali era realemente o meu lugar.

E agora eu já nao coleciono mais barbies, nem melissas e nem garotos. Na minha estante só há lugar pra nostalgia. :)

2 comentários:

Jéssica Bittencourt disse...

meu deus, que lindo!
eu chorei!
é exatamente isso que eu to sentindo.
e meu post parece pra caramba com esse!
é vivi...
as coisas mudam...

Vinicius Braga disse...

Eu juro que vim aqui por um acaso qualquer dessas marocagens da vida... E te digo que me surpreendi com o que tu escreveu.
Quando comecei a ler (sem muito interesse, eu confesso) nao tava pegando exatamente o fio da meada e achei algumas coisas raladas bem no iniciozinho, mas depois...
Achei o texto muito legal! Tipo, é uma espécie de conto juvenil, sei la (talvez seja mais um testemunho)! Mas muito bom. Acabei lendo o post todo. xD
Tu escreve bem. Sabe usar as palavras pra fazer coisas simples ficarem legais. Pelo menos achei nestes três posts que li.